A Polícia Federal e a Receita Federal desmantelaram nesta semana um suposto golpe praticado por uma empresa sediada em Novo Hamburgo (RS), que prometia lucros de 15% no mercado de criptomoedas e captava dinheiro dos interessados sem autorização. De acordo com as autoridades, 55 mil brasileiros teriam investido no negócio, com um valor acumulado de, pelo menos, R$ 850 milhões obtidos até fevereiro, um montante que já pode ser maior que R$ 1 bilhão, segundo as autoridades.
A ideia era apetitosa. De acordo com a PF, cujas investigações começaram em janeiro, a promessa era que os lucros viriam já no primeiro mês de investimento, com resultados muito mais altos até mesmo que os obtidos no mercado de criptomoedas. Entretanto, não foi encontrado nenhum indício de que moedas virtuais efetivamente tenham sido adquiridas; em vez disso, os cinco sócios da empresa, sendo dois casais e um quinto homem, sacavam o dinheiro ou o redirecionavam a aplicações de renda fixa, com rentabilidade muito menor que a prometida aos clientes.
Pelo menos R$ 500 milhões do montante que estava nas contas da empresa foram direcionados para esse tipo de investimento. Outras vezes, os responsáveis pelo esquema sacavam os valores diretamente e os utilizavam para a compra de apartamentos, carros de luxo e até pedras preciosas. O patrimônio de um dos sócios, por exemplo, aumentou de R$ 100 mil para R$ 30 milhões em apenas um ano. A polícia não informou se algum dos clientes chegou a receber algum rendimento pelas aplicações realizadas.
Os números foram citados como surreais pelo delegado Eduardo Dalmolin Bollis. A investigação descobriu, por exemplo, que um dos envolvidos adquiriu um apartamento de R$ 6,5 milhões em Florianópolis (SC), enquanto outro comprou uma mansão de R$ 3,8 milhões em Novo Hamburgo (RS). 12 carros, incluindo veículos de luxo com valores que ultrapassam os R$ 500 mil, também estavam entre as posses, enquanto dois dos acusados, incluindo a esposa de um dos sócios da empresa, gastaram mais de R$ 2,3 milhões em esmeraldas. Em uma visita a uma loja de grife em São Paulo (SP), um dos indiciados gastou R$ 960 mil em roupas, relógios, calçados, anéis e abotoaduras.
Foram cumpridos 10 mandados de prisão preventiva e 25 de busca e apreensão em endereços nas cidades de Novo Hamburgo, Porto Alegre e São Paulo, além de outras cinco cidades na região Sul do país. Além disso, as autoridades bloquearam contas bancárias, imóveis e veículos dos acusados, além de terem apreendido uma quantia em dinheiro citada como “expressiva”. Ao todo, são 13 pessoas e cinco pessoas jurídicas sendo investigadas.
Os detidos foram acusados de crimes como formação de organização criminosa, lavagem de dinheiro, apropriação indébita financeira, gestão fraudulenta e operação de instituição financeira sem autorização legal. Além disso, a Polícia Federal apura tentativas de obtenção de informações sigilosas sobre a investigação por parte de pessoas já identificadas.
Operação Egypto
De acordo com Bollis, o investimento simples em criptomoedas não é crime. O que levou à investigação e às prisões é o fato de a empresa, cujo nome não foi citado, captar dinheiro de clientes sem autorização do Banco Central, uma prática, essa sim, criminosa. A operação foi batizada de Egypto em referência às criptomoedas e, também, à categorização da atuação como esquema de pirâmide.
A prática teria sido iniciada em fevereiro de 2018, com 80% dos investidores fraudados depositando quantias de até R$ 20 mil. O dinheiro foi repassado a partir de agências bancárias em 823 cidades brasileiras para três contas em nome da empresa, de onde, na sequência, eram direcionados para as aplicações sob controle dos sócios ou, então, para as despesas pessoais deles.
Fonte: Canaltech