O The Wall Street Journal desta terça-feira (03) destacou uma matéria investigativa que deve causar burburinho por aí: a Google e desenvolvedores terceiros de apps têm acessado emails completos e seus detalhes, incluindo recipientes de endereços, os carimbos de hora, enfim, tudo. “E como eles podem fazer isso?” Bem, com o nosso consentimento, a partir de cláusulas que não ficam muito claras na hora da gente concordar com as regras de uso.
Tudo acontece de uma maneira bem familiar. Todo mundo que já baixou um aplicativo com integração ao Google ou ao Facebook recebeu uma requisição de acesso semelhante — muitas vezes abusiva, é verdade —, mas que acaba “passando” porque, oras, precisamos usar aquele produto naquele momento e raramente temos tempo suficiente para avaliar os riscos.
Entre as permissões estão coisas como as ilustradas abaixo, a exemplo de “visualizar, gerenciar e permanentemente deletar seu email no Gmail”, “criar, atualizar e deletar categorias”, “compor e enviar novos emails”, “visualizar suas configurações (como filtros e categorias)”, “gerenciar seus contatos” e “gerenciar seus calendários”, entre outras coisas que seriam ultrajantes se fossem requisitadas a você na “vida real” quando te oferecem um serviço ou produto.
O The Wall Street Journal falou com duas firmas, a Return Path e a Edison Software, que admitiram ter acessado milhares de contas e disseram que seus engenheiros viram centenas de emails para treinar seus algoritmos. Ambas avisam aos usuários que vão monitorar suas mensagens — mas elas não detalham que isso será feito por humanos e não por máquinas, por exemplo.
Google diz que só cede informações a terceiros “bem avaliados”
Ainda que não haja indícios de que os dados obtidos até agora tenham sido usados de má-fé, ter acesso ao seus dados completos por meio de manobras na política de uso soa muito parecido com o que aconteceu com a Cambridge Analytica e o Facebook. Em sua defesa, a Google afirmou ao The Verge que só cede informações para desenvolvedores de empresas bem avaliadas e com o consentimento do usuários.
Esse processo de validação das companhias envolve a checagem de sua identidade, a maneira como ela é representada pelo app e se sua política de privacidade alerta sobre o monitoramento de conteúdo do usuário, assim como a finalidade das observações — para comprovar que a empresa vá mesmo requisitar algo que faça sentido ela utilizar.
A Gigante das Buscas admite que seus funcionários leem os emails, mas “apenas em casos específicos quando você nos solicita e dá seu consentimento ou quando isso se faz necessário para fins de segurança, como no caso de uma investigação de uma brecha ou de abuso”, relata ao The Wall Street Journal.
Dado ao fato de que há maior vigilância sobre as atitudes das companhias e sobre possíveis novos “casos Cambridge Analytica”, essa prática da companhia de Mountain View segue um tanto quanto infame atualmente. De qualquer forma, se você quiser fica mais esperto com o que a Google divide com terceiros, é só se manter antenado com as configurações de “Apps com acesso à sua conta”.
Fonte: TecMundo