Trinta e quatro bilhões de dólares esse é o tamanho do negócio anunciado neste domingo, dia 28, nos Estados Unidos. Com esse valor, a IBM anunciou a compra da Red Hat, pagando US$ 190,00 por açao, numa transação feita totalmente em dinheiro e em títulos de dívida. O valor representa um ágio de 63% sobre o valor de mercado da Red Hat registrado na última sexta-feira, dia 26. Além da cifra, o negócio chama a atenção pela questão estratégica. A IBM encontra-se no meio de uma difícil transição. A “Big Blue” tirou o pé do acelerador do segmento de hardware há algum tempo (apesar de ter ainda boa parte de sua renda advinda de sistemas de grande porte) – a empresa fez uma guinada clara em direção aos serviços e, em especial, em direção à computação em nuvem e ao provimento de serviços de inteligência artificial, cujo principal ícone é o Watson (que se tornou uma das faces mais visíveis da nova era de computação cognitiva).
Como parte dessa estratégia, a IBM já havia ido às compras, incorporando há alguns anos a Softlayer – uma operação relativamente pequena em termos mundiais, mas altamente bem-sucedida no setor de computação na nuvem, por seu bom desempenho na entrega de operações críticas. Mas, apesar da notória competência técnica, a Softlayer sempre fez mais sucesso entre clientes de pequeno a médio porte (a empresa se notabilizou por ser uma das preferidas do mundo dos games, por exemplo). Porém, o tempo mostrou que isso talvez não tenha sido suficiente para fazer frente à dominante AWS da Amazon, e à crescente iniciativa Azure, da Microsoft. Com isso, os números da IBM nos últimos tempos teimaram em ficar no campo negativo – a empresa amargou 6 anos de prejuízos, interrompidos por lucros nos 3 primeiros trimestres fiscais desse ano, mas que voltaram ao campo negativo no último trimestre.
O que a compra da Red Hat significa?
Agora, a compra da Red Hat mostra que os planos da Big Blue não mudaram, mas ganharam um espectro mais amplo. Nos primórdios, a Red Hat era apenas mais uma distribuição Linux. Mas, logo, a empresa sediada em Raleigh, Carolina do Norte, começou a se diferenciar pelo oferecimento de serviços adicionais e pela capacidade de oferecer um pacote mais amplo de suporte e de soluções mais completas, atendendo o mercado corporativo que começava a migrar boa parte de suas aplicações para a arena do software livre. Com o passar do tempo, a Red Hat conseguiu se firmar como uma das principais corporações fundadas sobre o alicerce do software livre, porém, com um portifólio de produtos (e com uma lucratividade) de fazer inveja a muitas empresas que seguiram o caminho mais tradicional de desenvolvimento de softwares e de sistemas.
Ao adquirir a Red Hat, a IBM finca seu pé num mercado que é, antes de tudo, fragmentado, e extremamente dinâmico. O mundo do software livre não pode mais ser entendido como algo à margem do “mainstream” da indústria. Até a Microsoft fez diversas incursões nesse sentido nos últimos tempos. Mas, o desafio de criar uma marca nesse ambiente é algo cada vez mais difícil. Ao encampar a Red Hat, a IBM pode cortar um caminho naturalmente sinuoso e de difícil percurso. Para além disso, adquire uma empresa que é considerada uma das mais inovadoras e dinâmicas do atual cenário de tecnologia. E também incorpora ao seu leque de produtos um grupo de sistemas que pode ser implementado em qualquer plataforma de nuvem, como as da AWS (Amazon), da Microsoft (Azure) ou do Google (Google Cloud Platform).
Ou seja, com a aquisição, a IBM dá um novo passo na direção de focar ainda mais em desenvolvimento de software e menos em hardware – até porque, do ponto de vista de participação de mercado, as ofertas de cloud computing da IBM representam apenas 1,9% do mercado mundial (contra mais de 51% da AWS, por exemplo). A tecnologia “Open Shift”da Red Hat é uma das pedras de toque do negócio, por sua capacidade intrínseca de rodar em praticamente qualquer ambiente.
Dúvidas no horizonte
Apesar de parecer um movimento acertado para IBM, restam desafios. Talvez o maior deles tenha a ver com a diametral diferença de culturas entre as duas empresas. A Red Hat, nascida de hostes de desenvolvedores ligados ao software livre, tem uma herança quase oposta ao formalismo da mais que centenária IBM. Consciente do desafio, a CEO da IBM, Ginny Rommety, apressou-se em informar que os 12.600 postos de trabalho da Red Hat serão preservados (a IBM tem atualmente cerca de 370.000 funcionários) e que a marca e a empresa Red Hat permanecerão operando independentemente da IBM.
Fonte: Olhar Digital