Muito se fala sobre o bitcoin, moeda virtual que atingiu seu ápice de valorização no dia 17 de dezembro de 2017, chegando a valer US$ 20 mil a unidade, enquanto seu capital de mercado atingiu incríveis US$ 326 bilhões. Se compararmos ao Facebook, por exemplo, que a capitalização de mercado está em torno de US$ 460 bilhões, constata-se que é um valor bem expressivo, e por esse motivo, o bitcoin tem chamado muito a atenção.
Ao falarmos de bitcoin, não podemos deixar de abordar um conceito de tecnologia, que os noticiários anunciam como “A maior revolução do século 21”; “Vai mudar o mundo”; “A maior coisa depois da internet”; Notícias essas que se referem ao blockchain.
O conceito de blockchain foi definido pela primeira vez em 2008, quando foi publicado um artigo denominado “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System” por Satoshi Nakamoto (cuja real identidade permanece um mistério até hoje). Nesse artigo, é proposta uma solução alternativa ao modelo de transações financeiras que acontecem hoje, onde transações pela internet dependem quase que exclusivamente de instituições financeiras servindo como terceiros que buscam garantir pagamentos eletrônicos.
Satoshi argumenta que essa intermediação aumenta os custos de transações, além disso, um pagamento pode ser revertido mesmo após o serviço já realizado. E com a possibilidade de as transações serem reversíveis, aumenta-se o risco de fraudes e uma necessidade maior de confiança, exigindo que o comerciante solicite do cliente mais informações do que o necessário.
Assim, a necessidade é de que exista uma forma de realizar transações eletrônicas entre duas partes sem a necessidade de uma terceira parte de confiança, onde as transações sejam computacionalmente impossíveis de reverter e rotinas que garantem transações protegendo as negociações entre compradores e vendedores, para resolver essa necessidade, surge o blockchain.
Afinal, o que é o blockchain?
Explicar o que de fato é o blockchain não é fácil. Muitos autores definem essa tecnologia como uma espécie de conceito de arquitetura de banco de dados. Podemos começar assimilando esse conceito como se fosse um livro-razão contábil onde são registrados, por exemplo, transações de valores de um emissor para um destinatário.
O blockchain funciona de maneira descentralizada e distribuída, significando que qualquer pessoa pode ter uma cópia desses registros em seu próprio computador, basicamente como funciona os torrents. Atualmente, esse arquivo possui o tamanho de 155 GB e recebe atualizações constantemente.
Para garantir o sigilo e privacidade das transações, o blockchain propõe o conceito de “address”. Com a posse de uma chave privada, é possível gerar diversos endereços criptografados diferentes. Para efetuar uma transação de uma parte para outra, o recebedor deverá fornecer um desses endereços criptografados para o emissor. Por meio do endereço, não é possível descobrir a identidade nem do emissor e nem do destinatário da transação. Podendo ser agora representado da seguinte forma:
Quando uma transação é enviada, essa é assinada digitalmente também com criptografia composta com todos os dados da transação gerando uma nova chave. Porém, a transação realizada não vai diretamente para a rede do blockchain, esse registro fica em uma espécie de área temporária esperando ser validado.
E é nesse momento que entra o papel do “minerador”.
O minerador ou miner, consiste em uma máquina que possui instalado um software específico conectado à rede do blockchain. O processo de mineração, basicamente, é tentar decifrar códigos com valores criptografados emitidos pelo software. Quem conseguir decifrar o código primeiro, ganha o direito de validar todas as outras transações pendentes na área temporária, e como recompensa, recebe uma determinada quantidade de bitcoins.
Ao verificar a consistência de cada transação, é gerado uma espécie de “identificador da transação” juntamente com o tempo exato em que foi realizada a transação.
Após o processo de verificação de cada transação realizada, mais uma vez a criptografia entra em cena compilando todas as transações que estavam na área temporária, gerando uma nova chave e um novo bloco dentro da rede blockchain.
Em português, a palavra blockchain pode ser traduzida como “blocos encadeados”. Esse nome dá-se a forma em que os blocos são organizados a fim de manter sempre a sua integridade dentro da rede. Quando o miner tenta inserir um novo bloco dentro da rede da blockchain, a chave do novo bloco em combinação com a chave final gerada no último bloco da rede, gera-se uma nova chave final. Isso causa um encadeamento entre todos os blocos que foram gerados na rede desde seu início.
Com toda essa criptografia, caso alguém queira tentar descriptografar e alterar uma transação ou manipular de qualquer forma as informações no blockchain, isso seria inviável computacionalmente devido à complexidade envolvida. Mesmo que consiga, depois de manipulado, teria que enviar novamente as informações para a rede, e na próxima verificação, claramente seria negado na conferência das chaves do último bloco. A cada novo bloco, maior a complexidade para descriptografar, por isso é comum as pessoas aguardarem mais alguns blocos serem processados para assim, então, validar a transação como finalizada.
Mais do que bitcoin
Blockchain não se limita apenas ao bitcoin ou apenas às moedas virtuais. Ele se tornou um divisor de águas quando o assunto é segurança da informação, e vem sendo cada vez mais utilizado por empresas de vários ramos diferentes. Seu conceito é aplicável a diversas outras coisas do dia a dia que lidam com informações sigilosas ou precisam lidar com a consistência de dados sem serem manipulados. Já existem exemplos de uso em gestão de contratos (seguros, imóveis, construção etc), em bancos para transações financeiras, proteção de ativos (registro de patentes, royalties etc), dentre vários outros ramos e podendo se potencializar para áreas nem sequer imaginadas.
Por fim, o conceito de blockchain vem provando seu valor a cada dia, trazendo como a principal vantagem a descentralização. Isto significa que a dependência de terceiros que monopolizam regulações, comprovações, registros e garantias de confiança pode estar chegando ao seu fim, trazendo inúmeras vantagens com a diminuição de burocracias onde duas partes negociam entre si sem nenhum tipo de órgão intermediador.
*Kaito Queiroz é desenvolvedor Full-Stack da DB1 Global Software
Fonte: IDGnow!